"Por que razão
é o leite vendido em embalagens rectangulares, enquanto os refrigerantes surgem
em recipientes cilíndricos?"
"Praticamente todos os recipientes para refrigerantes,
quer de alumínio quer de vidro, são cilíndricos, mas as embalagens de leite são
quase transversalmente rectangulares. Se esta forma utiliza o espaço das
prateleiras mais economicamente do que a cilíndrica, por que razão os
produtores de refrigerantes não optam por ela? Uma possível explicação diz que,
como os refrigerantes são frequentemente consumidos directamente da embalagem,
o custo extra de armazenar embalagens cilíndricas é justificado pelo facto de
serem mais fáceis de agarrar. Isto não é tão relevante no caso do leite, que
não costuma ser consumido directamente da embalagem.
No entanto, mesmo que a maior parte das pessoas o fizesse, o
principio do custo-benefício sugere que seria improvável vermos este produto à
venda em embalagens cilíndricas. Embora as rectangulares economizem espaço na
prateleira, independentemente do que contenham, o espaço que poupam é mais
valioso no caso do leite. Nos supermercados, os refrigerantes são, regra geral,
guardados em prateleiras abertas, baratas e com custos operacionais baixos. Já
o leite armazena-se exclusivamente em espaços refrigerados, cujos custos de
aquisição e operação são elevados. Neste caso, o espaço tem um custo acrescido,
o que gera benefício adicional de embalar o leite em recipientes
rectangulares"
"Por que razão
as peças de roupa femininas abotoam sempre pela esquerda, enquanto as
masculinas o fazem sempre pelo lado direito?"
"Não é surpresa que os fabricantes de vestuário adiram
a determinadas normas no que respeita às características das peças de roupa
adquiridas por um mesmo grupo de consumidores. O que parece estranho é que o
padrão adoptado para as mulheres seja precisamente o oposto do seguido para os
homens. Se a escolha fosse completamente arbitrária, não haveria mistério.
Acontece, porém, que a regra em uso para os homens parece também fazer sentido
para as mulheres. Afinal, aproximadamente 90 por cento da população mundial -
masculina e feminina - é dextra, sendo-lhe mais fácil abotoar as roupas com
esta mão. Assim sendo, por que razão as peças de vestuário feminino abotoam a
partir da esquerda?
Trata-se de um exemplo de como a história pode realmente ser
importante. Quando surgiram, no século XVII, os botões utilizavam-se apenas no
vestuário dos mais ricos. Nessa época, era costume os homens vestirem-se a eles
próprios e as mulheres serem vestidas por criadas. O facto de as roupas
femininas abotoarem a partir da esquerda facilitava a vida às criadas dextras
com aquela incumbência.
No caso dos homens, o contrário fazia sentido não apenas
porque a maior parte se vestia a si própria, mas também porque reduzia a probabilidade
de uma espada retirada com a mão direita a partir da bainha na perna esquerda
ficar presa na camisa.
Se hoje praticamente nenhuma mulher é vestida por uma
criada, por que motivo o abotoar a partir da esquerda é ainda o padrão
convencional nas suas roupas? A norma, uma vez estabelecida, resiste à mudança.
Na época em que todas as camisas femininas abotoavam pela esquerda teria sido
arriscado para um fabricante apresentar o contrário. Afinal, as mulheres
acostumaram-se a vestir-se daquela forma e teriam de desenvolver novos hábitos
e habilidades para se adaptar à mudança. Para além desta dificuldade prática,
algumas poderiam sentir estranheza ao aparecerem em público usando, por
exemplo, camisas que abotoavam pela direita, visto que seria possível pensar
que eram homens"
"Porque razão
a prática de dividir a conta faz com que as pessoas gastem mais dinheiro nos
restaurantes?"
"Os amigos que jantam fora juntos costumam dividir a
conta por todos de forma igual. Para os empregados, é mais fácil apresentar um
único recibo do que passar um para cada cliente, além de que, assim, não têm de
tentar identificar os pedidos de cada pessoa para calcular a respectiva
despesa. Não obstante, há muita gente que se opõe a esta prática porque quem
escolhe pratos e bebidas mais baratas é forçado a pagar mais do que o custo do
que comeu e bebeu. Esta não é, porém, a única consequência que se pode
considerar desfavorável desta prática, pois ela gera um incentivo para uma
pessoa gastar mais do que o faria no caso de as contas serem separadas. A que
se deve esse efeito?
Considere-se um grupo de 10 amigos que concordam
antecipadamente dividir por igual a conta de um jantar num restaurante.
Suponha-se que um deles está a tentar decidir-se entre a dose normal de
costeleta especial de vaca, que custa 20 dólares, e a grande, por 30. Assumamos
ainda que o benefício adicional da porção maior vale para ele mais cinco
dólares do que a mais pequena. Se estivesse a comer sozinho, este indivíduo
iria pedir o prato de tamanho normal porque os cindo dólares do benefício
adicional do maior são inferiores aos 10 do custo extra que a escolha implica.
No entanto, visto que o grupo concordou em dividir a conta em partes iguais,
encomendar a porção maior irá fazer aumentar a sua parte em apenas um dólar (a
décima parte dos 10 dólares a mais relativos ao que ela custa). Visto que a
mesma vale para ele os cinco dólares a mais, irá pedi-la.
Os economistas consideram tais decisões ineficientes porque
o ganho líquido de quatro dólares que uma pessoa obtém ao pedir a porção maior
(os cinco adicionais, que são o valor que dá a esta escolha, menos o dólar
extra que terá de pagar no final do jantar) é menor do que a perda líquida
imposta ao resto do grupo (os nove dólares de aumento no montante total que eles
pagam devido ao facto de o seu amigo escolher uma dose maior).
Embora a divisão da conta possa ser injusta e ineficiente, é
improvável que a prática desapareça. Afinal, as perdas que dela resultam são
habitualmente pequenas, e a transacção torna-se mais fácil para todos."